REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quinta-feira da 10ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, fonte de todo bem,
atendei ao nosso apelo
e fazei-nos, por sua
inspiração,
pensar o que é certo
e realizá-lo com vossa ajuda.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 5,20-26)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 20se vossa justiça não for maior
que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus. 21Ouvistes
o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem matar será castigado pelo
juízo do tribunal. 22Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra
seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca,
será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será
condenado ao fogo da geena. 23Se estás, portanto, para fazer a tua
oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra
ti, 24deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta. 25Entra
em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele,
para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu
ministro e sejas posto em prisão. 26Em verdade te digo: dali não
sairás antes de teres pago o último centavo.
3) Reflexão – Mt 5, 20-26
* O texto
do evangelho de hoje está dentro da unidade maior de Mt 5,20 até Mt 5,48. Nela
Mateus mostra como Jesus interpretava e explicava a Lei de Deus. Por cinco
vezes ele repetiu a frase: "Antigamente
foi dito, eu, porém, lhes digo!" (Mt 5,21.27.33.38.43). Na opinião de
alguns fariseus, Jesus estava acabando com a lei. Mas era exatamente o
contrário. Ele dizia: “Não pensem que vim
acabar com a Lei e os Profetas. Não vim acabar, mas sim dar-lhes pleno
cumprimento (Mt 5,17). Frente à Lei de Moisés, Jesus tem uma atitude de ruptura
e de continuidade.
Ele rompe com as interpretações erradas que se fechavam na prisão da letra, mas
reafirma categoricamente o objetivo último da lei: alcançar a justiça maior que
é o Amor.
* Nas
comunidades para as quais Mateus escreve o seu Evangelho havia opiniões
diferentes frente à Lei de Moisés. Para alguns, ela não tinha mais sentido.
Para outros, ela devia ser observada até nos mínimos detalhes. Por isso, havia
muitos conflitos e brigas. Uns chamavam os outros de imbecil e de idiota. Mateus tenta ajudar os dois grupos a entender
melhor o verdadeiro sentido da Lei e traz alguns conselhos de Jesus para ajudar
a enfrentar e superar os conflitos que surgem dentro da família e dentro da
comunidade.
* Mateus 5,20: A justiça de vocês deve ser maior
que a justiça dos fariseus.
* Este
primeiro versículo dá a chave geral de tudo que segue no conjunto de Mt
5,20-48. O evangelista vai mostrar às comunidades como elas devem praticar a
justiça maior que supera a justiça dos escribas e dos fariseus e que levará à
observância plena da lei. Em seguida, depois desta chave geral sobre a justiça
maior, Mateus traz cinco exemplos bem concretos de como praticar a Lei de tal
maneira que a sua observância leve à prática perfeita do amor. No primeiro
exemplo do evangelho de hoje, Jesus revela o que Deus queria quando entregou a
Moisés o quinto mandamento “Não Matarás!”.
* Mateus 5,21-22: Não Matar
* “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos:
Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal" (Ex 20,13) Para
observar plenamente este quinto mandamento não basta evitar o assassinato. É
preciso arrancar de dentro de si tudo aquilo que, de uma ou de outra maneira,
possa levar ao assassinato, como por exemplo, raiva, ódio, xingamento, desejo
de vingança, exploração, etc. “Todo
aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal”.
Ou seja, quem fica com raiva do irmão já merece o mesmo castigo de condenação
pelo tribunal
que, na antiga lei, era reservado para o assassino! E Jesus vai mais longe
ainda. Ele quer arrancar a raiz do assassinato: Quem diz ao seu irmão: 'imbecil', se torna réu perante o Sinédrio; e
quem chama o irmão de 'idiota', merece o fogo do inferno. Com outras
palavras, eu só observei plenamente o mandamento Não Matar se consegui tirar de dentro do meu coração qualquer
sentimento de raiva que leva a insultar o irmão. Ou seja, se cheguei à
perfeição do amor.
* Mateus 5,23-24: O culto perfeito que Deus quer
* “Portanto, se você for até o altar para
levar a sua oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra
você, deixe a oferta aí diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com seu
irmão; depois, volte para apresentar a oferta”. Para poder ser aceito por Deus e estar unido a ele,
é preciso estar reconciliado com o irmão, com a irmã. Antes da destruição do
Templo do ano 70, quando os cristãos ainda participavam das romarias a
Jerusalém para fazer suas ofertas no altar do Templo, eles sempre se lembravam
desta frase de Jesus. Agora, nos anos 80, no momento em que Mateus escreve, o
Templo e o Altar já não existiam. A própria comunidade passou ser o Templo e o
Altar de Deus (1Cor 3,16).
* Mateus 5,25-26: Reconciliar
* Um dos
pontos em que o Evangelho de Mateus mais insiste é a reconciliação, pois nas
comunidades daquela época, havia muitas tensões entre grupos radicais com
tendências diferentes, sem diálogo. Ninguém queria ceder diante do outro.
Mateus ilumina esta situação com palavras de Jesus sobre a reconciliação que
pedem acolhimento e compreensão. Pois o único pecado que Deus não consegue
perdoar é a nossa falta de perdão aos outros (Mt 6,14). Por isso, procure a
reconciliação, antes que seja tarde demais!
* O ideal da justiça maior
Por cinco vezes, Jesus cita um mandamento ou um
costume da lei antiga: Não matar (Mt 5,21), Não cometer adultério (Mt
5,27), Não jurar falso (Mt 5,33),
Olho por olho, dente por dente (Mt 5,38), Amar o próximo e odiar o inimigo (Mt
5,43). E por cinco vezes, ele critica a maneira antiga de observar estes
mandamentos e aponta um caminho novo para atingir a justiça, o objetivo da lei
(Mt 5,22-26; 5, 28-32; 5,34-37; 5,39-42; 5,44-48). A palavra Justiça aparece sete vezes no Evangelho de
Mateus (Mt 3,15; 5,6.10.20; 6,1.33; 21,32). O ideal religioso dos judeus da
época era "ser justo diante de Deus". Os fariseus ensinavam: "A
pessoa alcança a justiça diante de Deus quando chega a observar todas as normas
da lei em todos os seus detalhes!" Este ensinamento gerava uma opressão
legalista e trazia muitas angústias para as pessoas de boa vontade, pois era
muito difícil alguém observar todas as normas (Rom 7,21-24). Por isso, Mateus
recolhe palavras de Jesus sobre a justiça mostrando que ela deve ultrapassar a
justiça dos fariseus (Mt 5,20). Para Jesus, a justiça não vem daquilo que eu
faço para Deus observando a lei, mas sim vem do que Deus faz por mim, me
acolhendo com amor como filho ou filha. O novo ideal que Jesus propõe é este: "Ser perfeito com o Pai do céu é
perfeito!" (Mt 5,48). Isto quer dizer: eu serei justo diante de Deus,
quando procuro acolher e perdoar as pessoas da mesma maneira como Deus me
acolhe e me perdoa gratuitamente, apesar dos meus muitos defeitos e pecados.
4) Para um confronto pessoal
1) Quais os conflitos mais freqüentes na nossa
família? E na nossa comunidade? É fácil a reconciliação na família e na
comunidade? Sim ou não? Por que?
2) De que maneira os conselhos de Jesus podem ajudar a
melhorar o relacionamento dentro da nossa família e da comunidade?
5) Oração final
Visitastes a terra e a regastes,
cumulando-a de fertilidade.
De água encheu-se a divina fonte
e fizestes germinar o trigo. (Sl
64,10)
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